quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Não é novidade que a moda caminha de acordo com o comportamento das pessoas, e é opinião minha que as pessoas não influenciam o ambiente onde vivem, mas sim são influenciadas por ele. Daí veio uma vontade particular de expressar uma de minhas referências, tendo em vista que não tenho formação alguma em moda.
Quem circula pelas ruas de São Paulo já está acostumado a conviver entre o cinza de uma grande metrópole contrastado às cores emergentes de obras feitas por artistas de rua, anônimos ou não. Não tenho interesse em discutir aqui a força ou influência do graffiti na moda, pois em minha modesta opinião isso já fica nítido na maioria das grandes coleções internacionais, sem contar marcas atualmente conceituadas que foram criadas por artistas de graffiti ou direcionadas a este segmento...Marc Ecko que o diga.
A capital paulista está hoje entre os principais pólos da arte de rua mundial, no entanto nos últimos anos algo bem contraditório vem me intrigando; A prefeitura paulistana vem apagando com frequência trabalhos de diversos grafiteiros, alguns são apagados horas depois de prontos. Esse apagão cinza baseia-se na lei N. 14451 (Programa anti-pichação da prefeitura de São Paulo) inspirada em uma lei de Nova York que proibía a posse de tinta spray para menores de 21 anos. A diferença é que lá, a marca de roupas Ecko processou a prefeitura e a lei caiu. Aqui a história é outra.
A lei paulistana surgiu na verdade para coibir a pichação, mas conforme depoimento do secretário de subprefeituras de São Paulo, Andrea Matarazzo: "A prefeitura não sabe o valor do graffiti e nem suas variações". Aí fica difícil.
Muito se pensou também em consultar os grafiteiros sobre quais intervenções deveriam ser apagadas ou não, e alguns até se submeteram a discutir isso, mas o que a prefeitura não esperava é que a maioria iria ser contrária a essa parceria. A antiga admnistração da capital chegou a trabalhar intensamente com o graffiti, mas hoje em dia os frutos recolhidos desta regulamentação e a seguinte extinção do projeto não são dos melhores. Além do mais, a grande maioria dos escritores de graffiti, assim como este que vos fala, não vê diferença entre graffiti e pichação, a não ser a diferença estética. A história desse movimento artístico praticamente confunde estes dois estilos, um não existiria sem o outro. Além do que esse suposto "acordo" assassinaria por inteiro um dos princípios básicos do graffiti: ele nasceu nas ruas, e ilegalmente. Em minha opinião a função de um governante tolerável a ele seria conviver com todas as suas vertentes ou tentar abolir todas, que é o que vem acontecendo; acho inimaginável um meio termo para isso. Esse amparo legal é praticamente inviável e aí apareceram erros grotescos. Um gigantesco painel dos irmãos "Os Gêmeos", apagado na capital causou polêmica e foi refeito. Poucos sabem o reconhecimento mundial que estes artistas tem, e ainda menos pessoas imaginam que após vinte anos de carreira e tal reconhecimento, em sua primeira exposição no Brasil, realizada na galeria Fortes Villaça, simplesmente atingiram o posto de exposição particular mais visitada da história deste país. Feito considerável para artistas que se formaram em uma arte proibida. Literalmente proibida.
Faço desta divagação um protesto particular, e aos que se interessarem em maiores informações, a net está cheia delas...porém sua mais importante talvez não seja tão acessível, então aí vai:
Style Wars, 1982. Primeiro documentário de graffiti da história, com alguns artistas novos na época, que sem saber estavam construindo o mais forte movimento artístico dos últimos tempos...em eterna construção.

Rodrigo a.k.a. Snoj

2 comentários:

  1. fiz um trabalho da faculdade ano passado sobre isso
    No meio da pesquisa achei um material sobre "os gemeos".. meeu, é muito bom...
    acho um crime apagar uma obra deles
    o.O

    ps.ótimo texto ;)

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