quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Milk - A voz da igualdade






















A verídica história do ativista gay Harvey Milk, que após despertar de um silêncio interior torna-se líder da causa gay em São Francisco, chegando a ser o primeiro homossexual assumido eleito para um cargo público nos Estados Unidos, é realmente comovente. Não só pela determinação e coragem admiráveis do seu protagonista, que dá nome ao filme, vivido brilhantemente por Sean Penn (eita, estatueta merecida!). Mas também pelo exemplo humanitário de um homem sensível que é discriminado e humilhado por sua orientação sexual e, que apesar disso, nos revela sutilmente, e até independente de sua causa, a sua defesa em primeiro lugar à vida.
O filme se passa em 1970 quando Harvey vivia em Nova York e trabalhava em uma empresa de seguros, frustrado por não poder assumir sua opção sexual resolve, então, se mudar para São Francisco com o namorado Scott. Lá eles abrem uma loja de fotografia que mais tarde tornou-se a base da causa gay na cidade. Após ter conquistado a liderança na defesa dos direitos dos homossexuais, o ativista candidatou-se ao posto de supervisor da cidade, e em 1977 na quarta tentativa, ele consegue se candidatar.


Numa batalha intensa contra o preconceito, encontra sua principal oponente, a popular cantora e religiosa Anita Bryant, pregadora de um Deus cruel com uma mensagem obviamente contrária a tudo que pode-se imaginar de Deus, visto que, com certeza Ele não estaria perpetuando o ódio e o preconceito em defesa de seus interesses. Anita defende a Proposition 6 que visava acabar com os direitos dos homossexuais, inclusive o de trabalhar como professor em uma escola, chegando ao absurdo de sugerir que estes estariam recrutando crianças ao homossexualismo, pois "homossexuais não podem se reproduzir".
Apesar de toda a beleza do filme e de sua mensagem, duas razões me fizeram postar sobre ele. A primeira é o figurino, incrivelmente competente e, melhor, masculino!!! Não é toda hora que se vê um figurino masculino em destaque. Para aqueles que ficam perdidos quando ouvem dizer: a tendência agora é os anos 70, vale a pena assistir.
Bastante fiel, mesmo porque o diretor utiliza de muitas imagens reais de arquivo, ele retrata não só a cultura gay, mas também toda a cultura americana da época. As calças boca de sino, os jeans, as estampas florais miúdas e os xadrezes nas camisas, trajes esportivos típicos dos anos 70, coletes, chapéus de cowboy, enfim, faz referências desde os hippies até os políticos, construindo com lucidez e autenticidade a personalidade de cada personagem. E, apesar do tema, em momento algum ele é estereotipado, nem as drags sofreram excessos além do que lhes é inerente, é claro.


A segunda razão, voltando agora ao tema, foi que depois de uns quinze minutos que o filme começou, e ele se inicia já com uma cena delicada de Harvey e seu namorado, vi um casal que estava sentado atrás de mim descer as escadas com um ar de indignação e, ainda, o ilustre senhor parou próximo à primeira fila e fez um sinal para a tela com a mão, como se dissesse: que absurdo! Na hora não consegui segurar os risos. Mas o pior é que me parece que mesmo 30 anos após conseguir derrubar a Proposition 6, Harvey ainda encontraria a intolerância aqui em São Paulo numa sala de cinema. Damn!


Outro fato interessante sobre o filme, que descobri pesquisando umas imagens para postar aqui, é que o ator que faz as dublagens de Sean Penn no Brasil, o também pastor evangélico Marco Ribeiro, recusou o trabalho. Por que será?? Segundo ele: "tenho a voz envolvida com outras questões."
Segue o link da reportagem: http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u508371.shtml

Amanda

2 comentários:

  1. Tive a oportunidade de assistir ao filme no Uruguai (apesar da legenda em espanhol), numa sala quase vazia, mas com senhores e senhoras distintos, que, ao menos a meu ver, se portaram de forma bem menos preconceituosa e bem mais respeitosa diante da película de Gus Van Sant. Destaque especial à atuação de Sean Penn, mais uma vez digna e merecedora de Oscar (Brad Pitt que me perdoe, mas comparar a atuação de ambos é covardia!) Excelente comentário, crítica bem formulada e de muito bom gosto! Destaque especial ao comentário sobre o figurino, visto que o blog se propõe (também) a lidar com aspectos de moda, que não se trata apenas de vestimenta, mas sim de fenômeno cultural. Abaixo o preconceito! Congratulations!

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  2. Nossa, que honra! Vindo de você é mais que um elogio!!
    Tô me achando agora...hahahaha

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